Wednesday, February 22, 2012

Um Dia - + um livro lido!

Um Dia (One Day, Estados Unidos/Inglaterra, 2011). Direção: Lone Scherfig. Roteiro: David Nicholls. Elenco: Anne Hathaway, Jim Sturgess, Patricia Clarkson, Romola Garai. Duração: 107 minutos.

Baseado no best-seller de David Nichols, o que nos dias de hoje não significa absolutamente nada (Stephenie Meyer emplacou uns e todos sabem o que se sucedeu), Um Dia é uma versão Nicholas Sparks mais madura, mas igualmente lacrimejante e melodramática. Baseada em uma estrutura narrativa peculiar e intrigante, a qual revisita os 15 de julho na vida de Dexter e Emma desde 1988 ao longo de mais de 20 anos, a história se debruça no amadurecimento do relacionamento de seus personagens fugindo da pontualidade e imediatismo que cerca a maioria dos romances. Ironicamente, esse mesmo artifício revela a principal fraqueza do roteiro - outras serão vistas nos parágrafos seguintes - pois, o reencontro anual com os personagens não esconde a considerável perda de informações que motivaram mudanças súbitas na vida e no comportamento de cada um.



Emma (Hathaway) e Dexter (Sturgess) passam a noite de formatura juntos e, apesar dos esforços de fisgar e seduzir o jovem, Emma consegue estabelecer apenas laços de amizade com aquele que viria a ser o seu amor platônico. Findo este 15 de julho de 1988, acompanhamos a rotina anual de cada um que, sozinhos ou juntos nos anos subsequentes, trilharam caminhos diametralmente opostos e conheceram novas pessoas. Ela, inteligente, perspicaz e adorável, mas que não consegue alcançar o sucesso que lhe é devido; ele, cafajeste, presunçoso e arrogante, torna-se apresentador de um programa de televisão controverso. Inevitavelmente, eles descobrirão estar destinados um para o outro desde àquela fatídica noite, e mesmo que o roteirista David Nicholls pese a mão, obrigando Emma a cometer sacrifícios enormes e não-retribuídos para conquistar Dexter, o determinismo de uma história de amor na concepção de "foram feitos um para o outro" tem seu quê de charme.

Nesse meio termo, Hathaway rapidamente transforma-se no elo com o público. A doçura sonhadora, a meiguice e o despreendimento transformam Emma em uma companhia agradabilíssima, algo que o babaca do Dexter não consegue enxergar. Antipático, egocêntrico e narcisista, ele usa Emma mais como alguém para saciar a solidão provocada por sua personalidade e aplacar sua dor e vícios do que como uma verdadeira amizade. Interpretado pelo inexpressivo Sturgess e sua característica cara de paisagem e sofrimento, é praticamente impossível crer a bela e sensível Emma apaixonaria-se pelo sujeito depois de um desastrado jantar no qual ele expõe o seu (des)interesse e umbiguismo. Dessa maneira, ela surge como âncora trágica da narrativa, entregando-se aos amores de uma pessoa que ela não ama, apenas para surprir a carência sentimental. O que é revelado na mais clichês das frases, enunciada conforma a cartilha Nicholas Sparks: "ela o fez decente; você a fez feliz".

Durante o amadurecimento de Emma e Dexter, os traços adolescentes, sonhadores e inconsequentes, cedem espaço para versões realistas, cínicas e desiludidas, propelidas por tragédias, algumas delas abordadas com excessivo descaso e descomprometimento em função da estrutura narrativa - mais um efeito negativo desta. Alçado à condição de protagonista, decisão incorreta e questionável, Dexter submete-se a um arco dramático amplo desde a doença da sua mãe (Clarkson), o cancelamento do programa de televisão, o seu casamento com Sylvie (Garai, a jovem de Desejo e Reparação e cada vez melhor atriz), até um evento que o humanizaria definitivamente. Por sua vez, a vida de Emma é descrita em função do sonho em se tornar escritora ou o relacionamento com Ian (Rafe Spall), o que é decepcionante.

Esmiuçando e dissecando frações da vida daqueles personagens, determinados momentos deveriam ser explorados mais apropriadamente no roteiro de David Nicholls. A demissão de Dexter após uma entrevista desastrada e a contratação em um programa sobre videogame carece do vislumbre da jornada do personagem, apesar de entendermos o que levou a esta queda vertiginosa. Analogamente, o relacionamento de Emma com Ian, apresentado em um jantar sem faíscas ou na inabilidade do sujeito em fazer piadas, culmina na explicação de que ela não "aguenta mais ele assistir a Ira de Khan todos os dias". Essa demasiada exposição torna-se constante no filme, exigindo que um personagem precise contextualizar ao público os eventos que estão transcorrendo, no que expõe a artificialidade da empreitada; ora, se Emma e Dexter são tão amigos, era esperado que ele revelasse às más notícias no tempo esperado e não meses depois.

O final é triste e na minha opinião Emma (não Dexter) mereceria uma história de amor melhor.

Para quem viu o filme no cinema, o livro é idêntico, a não ser pelo fato de no final Dexter ficar com a Gerente do seu restaurante. Este fato é omitido pelo filme.

De qualquer forma eu veria o filme novamente é claro, choraria tudo de novo.

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